Cães precisam trabalhar


Dar uma função e fazer o seu cachorro se sentir parte do trabalho em uma "matilha" é fundamental para seu bem-estar. Servir seu dono, treinar agility, carregar objetos pelo caminho no passeio. Pequenos prazeres garantidos.



A boxer Theodora cumpre sua “tarefa” de trazer sua guia para o passeio.
Foto de Simone Ethur (a dona “coruja”)


Ao contrário do que muitos pensam, os cães gostam de ter um trabalho. Isso está na genética deles. É só estudar a história dos lobos e sua organização da matilha, onde cada membro precisa ter uma diferente função ou não poderá fazer parte dessa matilha, que se começa a entender isso. Dar a nossos cães uma ocupação útil considerando seu bem estar e suas necessidades e limites físicos não é nenhuma crueldade, muito pelo contrário. Quem nunca viu um cão orgulhoso depois de encontrar a “caça” (que pode ser uma bomba terrorista ou drogas) para seu dono?

Numa matilha ou grupo de cães, todos os cachorros precisam ter diferentes funções ou serão expulsos dela. Esta “organização natural” está nos genes dos canídeos, não só do canis lúpus (lobos) mas também no canis familiaris (cão). Seu cão enxerga todas as interações com outros animais, com você e outros humanos, no contexto de matilha. E todas as matilhas contem uma hierarquia, ou não funcionariam. Existem diversos níveis de status abaixo do líder.

A mentalidade de matilha é uma das maiores forças naturais na formação do comportamento do cão. É o primeiro instinto. O status do cão na matilha é seu Eu, sua identidade. A matilha é tão importante para os cães porque se algo ameaça sua harmonia ou sua sobrevivência, ameaçará também a harmonia e sobrevivência de cada cão. A necessidade de mante-la estável e funcional é motivação para qualquer cão, porque isso está profundamente enraizado em seu cérebro.

Observando um bando de lobos, percebe-se um ritmo natural em seus dias e noites. O grupo caminha, às vezes até 10 horas por dia, para encontrar comida e água, e então se alimenta. Todos cooperam, tanto na busca e caça do alimento quanto em sua divisão de acordo com a função de cada um deles na matilha. Este é seu “trabalho” natural. Apenas quando lobos e cães selvagens terminam seu trabalho diário é que começam a brincar. É nessa hora que comemoram e vão dormir exaustos.

Na natureza, se um líder de matilha demonstrar qualquer fraqueza, será atacado e substituído por um membro mais forte. A fraqueza extrema não é tolerada em nenhum membro da matilha. Um animal muito fraco ou retraído será atacado pelos outros. Ele coloca em risco o resto da matilha e os animais tem o instinto de procriação dos mais fortes, para que a próxima geração tenha uma chance maior de sobrevivência.

Cães tímidos recebem a função de vigias, devido à sua insegurança, que os faz dar o alarme no primeiro instante em que farejam um perigo. Também são colocados pelo líder na função de ficar ao redor dos outros membros, por serem os mais dispensáveis já que são os menos fortes, e a posição rodeando a matilha serve de “escudo” pois serão os primeiros a ser atacados por outros predadores.

Os cães, tanto os selvagens quanto os domésticos, nasceram com aptidões para trabalhar. Mas, hoje, nem sempre temos tarefas para permitir que nossos cães trabalhem seus talentos especiais. Por isso, a caminhada é a tarefa mais importante que você pode dar a um cão. Caminhar com você, o dono, é uma atividade tanto física quanto mental para ele.

Dar a um cão uma tarefa da qual ele goste, para o cão, é um tipo de diversão. Utilizar cães pastores para pastorear; cães caçadores para farejar; cães criados para a guarda como cães de alarme, de guarda pessoal ou territorial para nos avisar dos perigos e/ou proteger; cães nadadores para praticar esportes aquáticos; cães de tração para puxar um peso que não seja excessivo, para o cão é similar a se divertir com uma atividade que ele gosta de fazer, ele o faz por prazer instintivo. Há gente que confunde dar um trabalho ao cão com maltrato. Mas isso não é verdade, só existe maltrato – e isso em qualquer atividade de manejo – quando o animal passa por sofrimento.

Há um engano a respeito das necessidades básicas de um cão, do que a mente canina realmente precisa para se tornar equilibrada: a satisfação das necessidades instintivas caninas. Usamos psicologia humana, que é diferente da psicologia canina. E acabamos fazendo o contrário do que deveríamos, projetamos nos cães necessidades humanas tratando-os como gente, com roupinhas, vida sedentária e só carinho, esquecendo que antes do afeto devem vir o exercício e a disciplina da matilha, necessidades instintivas enraizadas no DNA de todos os cães.

(Baseado no livro “O Encantador de Cães”, de Cesar Millan)


Escrito por Tereza Falcão - Colunista e Colaboradora TSC

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1 comentários:

Simone disse...

meu bebe lindo.

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